Foi
no século dezenove. O arcebispo de Viena resolveu fazer uma visita a alguns
dos seus fiéis.
Preparada
sua comitiva aprestou-se para a viagem. O primeiro local que deveria visitar
seria o castelo de Vivarais.
Os
donos do castelo avisados antecipadamente passaram a aguardar o ilustre
visitante, esmerando-se em detalhes, a fim de que tudo transcorresse sem
qualquer transtorno.
Ao
cair da tarde daquele mês de março apresentou-se no palácio um pobre
sacerdote pedindo pousada.
Como
todos os aposentos já se encontravam reservados para os visitantes, os donos
do castelo pediram aos criados que conduzissem o pedinte a um dos alpendres,
junto às cavalariças.
Algum
tempo depois chegaram ao solar os vigários que constituíam a comitiva do
arcebispo.
Foram
recebidos, regiamente, pelo fidalgo e família, mas logo se admiraram em não
ver Sua Excelência.
Perguntando
por ele, receberam dos senhores do castelo a resposta de que ele ainda não
aparecera.
Não
é possível, falou um dos padres. Fomos obrigados a nos retardar um pouco e
ele tomou a dianteira. Devia ter chegado à nossa frente.
Foi
então que os anfitriões se recordaram do sacerdote recolhido próximo às
cavalariças.
Imaginando
que ele poderia ter cruzado, em sua jornada, com o arcebispo, resolveram
pedir aos criados que lhe fossem indagar a respeito.
Quando
alguns dos integrantes da comitiva ouviram a referência a um outro sacerdote,
perguntaram: quem é o religioso a quem se refere o nobre senhor?
Ora,
respondeu o senhor de vivarais, é um sacerdote muito pobre que nos bateu à
porta, pedindo agasalho por uma noite.
A
um só tempo, falaram os vigários presentes: “é ele.”
Verdadeiramente,
o pobre recebido, por caridade, no luxuoso castelo não era outro senão o
grande Daivan, o arcebispo de Viena.
Assim
portava-se e tão humilde era, que não se apresentava jamais com seus títulos
e roupas elegantes.
Os
homens essencialmente grandes não se importam com honrarias, e suntuosidades.
Delas não necessitam para mostrarem seu valor, porque que este é intrínseco e
aflora, onde quer que se encontrem.
Assim
Jesus, o Divino Mestre, escolheu a quietude de uma noite silenciosa para
nascer, num estábulo, tendo como teto a abóbada celeste, como primeiras
harmonias as vozes celestiais, e como primeiras visitantes os homens simples
que pastoreavam no campo.
Nada
que Lhe denunciasse a glória aos olhos humanos. E Ele era a luz, O Modelo, O
Guia.
***
A
humildade legítima não se deixa atingir pela vaidade dos elogios, nem se
permite humilhar pela zombaria dos que não a entendem.
Por
isso mesmo é inatingível pelo mal, de qualquer forma que este se apresente.
(Baseado no livro: Lendas do Céu e da Terra, cap. Humildade)